Eles são filhos de agricultores, pedreiros, pescadores e muitos até estão com pais desempregados. Mas já leem e escrevem bem, recitam poesias, cantam e contam histórias como ninguém. Eles fazem parte de um pontinho de cultura que existe no Brasil a cerca de 25km de Natal. Lá, as crianças aprendem que cultura se faz com literatura e o livro só tem sentido se estiver acompanhado de leitura, que é a mola-mestra para a vida em sociedade. Essa é a rotina do projeto "Eu canto, conto e recito", que está sendo aplicado na Escola Municipal Tereza Brito, em Macaíba e foi contemplado no final do ano passado com o prêmio do Ministério da Cultura "Um pontinho de cultura no Brasil".
Alunos da Escola Municipal Tereza Brito se reúnem duas vezes por semana no horário oposto ao das aulas Foto: Ana Amaral/DN/D.A Press |
A escola foi contemplada com uma verba de R$ 18 mil para ser investida no estímulo à produção da cultura literária. O grupo tem 25 crianças na faixa etária dos 6 aos 12 anos, abrangendo até o 5º ano do Ensino Fundamental. A criadora do projeto é a professora Rosemary Melo Feitosa, que se reúne duas vezes por semana com os alunos para atividades de leitura de autores da literatura infantil e ensaios de recitação e canto. Ela foi estimulada a partir de uma programação do projeto "Uma noite de autógrafos", que há 10 anos acontece na escola, criando uma roda de leitura. "Percebi que havia crianças contando histórias espontaneamente, então veio a ideia de criar o grupo em horário extra-escolar que pudesse trabalhar além da contação, a poesia e a música dentro dessas histórias. A partir daí fomos montando, começando a preencher o tempo ocioso das crianças e possibilitando o contato com todos os tipos de textos que circulam no ambiente social", explicou a professora.
A recitação da poesia começou a ser acompanhada pelo canto, onde as crianças, uma a uma, tinham participação ativa. Umas mais tímidas outras mais espontâneas, mas todas demonstrando alegria de trabalhar a poesia.
Verba
Antes do prêmio, a situação não era fácil. Era a professora quem comprava os livros, buscando a diversidade, desde amitologia grega, nórdica-romana às lendas e contos de fada, além de crônicas e poesias que sempre foram uma presença marcante no grupo. Quando chegou o dinheiro do projeto, a escola adquiriu novos livros, investiu na indumentária e contratou professores de canto, teatro e dança. Os livros começaram a circular entre os alunos, por empréstimo, para facilitar a leitura no ambiente doméstico. No início, a escola fez um "cesto de possibilidades", de onde alunos retiravam os livros para ler de acordo com o que mais se identificavam. Aos poucos, eles foram se familiarizando com autores como Roseana Murray, Mário Quintana, Fernando Paixão, José Paulo Paes e Ilka Brunhilde.
Fonte: Diário de Natal