Famílias da zona rural do Ceará receberão um projeto inovador para aproveitar ao máximo o potencial da água em épocas de seca. Serão implantados em 17 municípios Projetos-Pilotos de Reúso de Água Cinza, com o objetivo de tratar a água utilizada no banho, na lavagem de louça e roupa, para servir à produção de alimentos. O governo do estado enviou à Assembleia Legislativa mensagens que autorizam a liberação dos recursos para a ação, e devem ser votadas nesta semana.
A ação faz parte do projeto São José III, responsável pela implantação de sistemas de abastecimento de água em comunidades da zona rural. As ações terão investimento total de R$ 1,8 milhão e devem beneficiar 85 famílias – cinco em cada município. O agricultor Francisco Antônio Rodrigues, presidente da Associação dos Agricultores do Riacho Verde – distrito de Quixadá, a 169 quilômetros de Fortaleza –, diz que a água, antes desperdiçada, será usada em canteiros de hortaliças, em vez de contaminar o solo e prejudicar os animais domésticos. Segundo ele, "com o reúso da água, isso não vai mais acontecer”.
As famílias do distrito já tiveram contato com a técnica de reúso da água ao visitar duas experiências: em Apodi, no Rio Grande do Norte, e em Iguatu, na região centro-sul do Ceará. Ambas encampadas pelo Projeto Dom Hélder Câmara e pela Universidade Federal do Semiárido, em parceria com outras entidades. Na cidade cearense, fica a unidade demonstrativa do projeto-piloto que, a custos módicos, reaproveita a água dos lavatórios e dos chuveiros. "Há todo um arranjo para a purificação biológica da água e, depois disso, ela passa por análises que verificam se serve para irrigação. O mais bonito disso é reaproveitar o nosso bem mais precioso, visto que enfrentamos uma crise hídrica séria”, explica o coordenador do projeto São José III, Ilo Cavalcante.
Além do reúso da água, outra ação do São José III é a implantação de 47 projetos produtivos em agricultura familiar, apicultura, ovinocaprinocultura e piscicultura, que vão beneficiar 1.448 famílias de 38 municípios. Vão permitir, por exemplo, a construção de novos espaços de trabalho e a compra de máquinas que ajudem nos negócios. A ideia, segundo Cavalcante, é permitir que as famílias produzam mais e melhor.
Para o presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Ceará (Fetraece), Luiz Carlos Ribeiro, os projetos se somam a outros que contribuem para a convivência com o Semiárido e com a profissionalização da agricultura familiar. Segundo ele, muitas famílias têm consciência dos potenciais econômicos do setor, mas precisam de mais incentivos para alcançá-los.
Luiz Carlos diz que existem ainda os desafios da falta de incentivo e de assistência técnica, e acrescenta que há iniciativas importantes, mas não atendem a todos. A agricultura familiar, esclarece, é hoje a maior atividade com mão de obra economicamente ativa do campo, gerando renda com inclusão social, mas a profissionalização requer que se saiba mais do que simplesmente produzir. "É preciso agregar valor ao produto, com processamento e beneficiamento”, destaca.
O projeto São José III teve inicio em dezembro de 2012 e termina em outubro de 2016. A primeira fase tem investimentos de US$ 150 milhões, sendo US$ 100 milhões financiados pelo Banco Mundial e US$ 50 milhões de contrapartida do governo do estado. Os valores destinados às ações de reúso de água e de incentivo à agricultura familiar serão repassados a entidades, como cooperativas e associações selecionadas em chamadas públicas, responsáveis pela execução dos projetos.
Edwirges Nogueira - Correspondente da Agência Brasil/EBC