Gilberto Costa
Correspondente da Agência Brasil/EBC
Lisboa – Para estimular empresas a contratarem portadores da trissomia 21 – como a síndrome de Down é chamada em Portugal – uma associação de pais dá início hoje (21) à campanha “Acreditem. Eles conseguem!”.
O intuito é mostrar que pessoas adultas com síndrome de Down são capazes de trabalhar e estender, ao mercado de trabalho, a visão inclusiva, típica do Estado de bem-estar europeu, que garantiu a crianças e adolescentes lusitanos com Down e outras deficiências o acesso à educação pública de qualidade.
De acordo com Marcelina Souschek, fundadora da Associação Pais 21, ainda são poucas as empresas em Portugal que contratam pessoas com Down. Mesmo assim, a associação coleciona casos que demonstram que a presença de empregados com a deficiência melhora o ambiente de trabalho, o que costuma favorecer ganhos de produtividade.
Segundo ela, pessoas com Down têm uma sensibilidade emocional “acima da média” e a típica cordialidade do trato acaba por cativar os colegas. “Eles são capazes de compreender o outro”, explica, ressaltando que a habilidade é muito valorizada nos processos de recrutamento para trabalhos em equipe.
Para a associação, falta conhecimento entre os empresários sobre essas capacidades. Além disso, a legislação portuguesa não tem sido eficaz para estimular contratações. O benefício fiscal só é obtido para empresas que fazem contratos de trabalho por tempo indeterminado – prática rara no mercado de trabalho português, especialmente depois da crise econômica (que já desempregou quase 1 milhão de pessoas).
Marcelina Souschek teme que a visão negativa de alguns setores da sociedade sobre pessoas com síndrome de Down pese nos cortes de gastos, feitos pelo governo nas políticas sociais de Portugal por causa da crise. “Talvez não seja difícil cortar gastos destinados a quem não se considera produtivo”, lamenta ao ressaltar que, “apesar do déficit cognitivo”, pessoas com Down podem trabalhar desde que haja capacitação.
Pais de crianças e jovens com síndrome de Down entregam hoje no final da tarde (horário de Lisboa) na Assembleia da República pedido para que os deputados modifiquem a legislação de benefício fiscal e assegurem recursos para que as escolas continuem atendendo alunos com a deficiência.
A associação ainda quer que haja previsão legal para o aconselhamento social aos casais cujo feto seja diagnosticado, logo no início da gravidez, com síndrome Down. Isso porque, em Portugal (assim como em outros países da Europa), o aborto é permitido até o terceiro mês de gestação e a decisão de interrupção é baseada apenas na avaliação clínica.
Segundo Marcelina Souschek, além da campanha em favor do trabalho para quem tem síndrome de Down, a data é oportuna para os pais “mostrarem o orgulho que sentem dos filhos”. Segundo ela, para quebrar estigmas e preconceitos, é importante que “os pais demonstrem satisfação pelo progresso que os filhos são capazes de conseguir”.